3/08/2009

Clara Zektin








O prêmio CLARA ZETKIN procura lembrar a vida de uma mulher que se destacou na luta pelos direitos femininos.

Clara Zetkin nasceu em 5 de julho de 1857 em Wiederau, Alemanha, pequena cidade onde a principal atividade era a indústria têxtil e a esmagadora maioria dos habitantes tecelões.

Ativista incansável, escrevia em jornais e revistas em prol da causa feminina, principalmente das mulheres operárias têxteis.

Viveu em uma época onde as mulheres trabalhavam arduamente e as condições nas fábricas eram péssimas: jornadas de 12, 14 e até 16 horas (a semana de trabalho era de seis dias, em casos extremos incluindo como 7o. dia as manhãs de domingo), muitas destas fábricas não possuíam refeitório e outras sequer banheiros.
Copenhagen, agosto de 1910.
Em Copenhagem, no ano 1910, durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, por iniciativa da jornalista alemã Clara Zetkin (foto), mulheres vindas de 17 países adotaram a proposição de criar um "Dia Internacional da Mulher". O objetivo era canalizar os esforços na luta para obtenção do direito ao voto feminino. A proposta foi aceita por mais de 100 mulheres, inclusive pelas 3 primeiras mulheres eleitas para o Parlamento Finlandês. Não foi fixada, porém, nenhuma data específica.


1911 - Como resultado das decisões tomadas em Copenhagen no ano anterior, foi marcado pela primeira vez como Dia Internacional da Mulher, no dia 19 de março, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça, aonde mais de 1 milhão de mulheres e homens participaram de manifestações. Além do direito de voto e de participação pública, foi pleiteado o direito de trabalhar, de treinamento vocacional e do fim da discriminação no trabalho.

Seis dias mais tarde, no sábado 25 de Março de 1911, ocorreu o trágico incêndio da fábrica de camisas Triangle, em Washington Place, Nova York.


Cento e vinte e nove trabalhadoras, jovens imigrantes italianas e judias, morreram devido à falta de segurança nas instalações.
Esta tragédia - e as terríveis condições em que ocorreu - passou a ser sempre lembrada por ocasião das celebrações do Dia Internacional da Mulher, oficialmente fixado em 8 de Março pela Assembléia Geral da ONU, a partir de 1975.
Uma controvérsia
Como vimos, Clara Zetkin propôs, em 1910, a criação de um Dia Internacional da Mulher sem definir uma data precisa e um ano antes do incêndio da fábrica Triangle.
No Brasil e em alguns países da América Latina acreditou-se que Clara teria proposto o 8 De MARÇO para lembrar operárias mortas num outro incêndio que teria ocorrido em Nova Iorque em 1857.
É muito provável que o sacrifício das trabalhadoras da Triangle tenha se incorporado ao imaginário coletivo da luta das mulheres, mas o processo de instituição de um Dia Internacional da Mulher já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e européias há algum tempo e foi ratificado com a proposta de Clara Zetkin.
A luta de Clara Zetkin continua viva ainda hoje na luta por melhores condições de vida para todas as mulheres, especialmente àquelas relacionadas às atividades têxteis.
O prêmio CLARA ZETKIN, portanto, tem esse objetivo: homenagear mulheres que se destaquem na área têxtil.

Na reportagem a seguir, vemos um grupo de mulheres que ainda conservam uma forma antiga e artesanal de fiar, preservando uma tradição de mais de 90 anos, elas tecem mantas de lã, além de dar conta de todo o trabalho no sítio.

PERFIL
A casa das quatro fiandeiras
TEXTO: SUELY GONÇALVES (internet)
FOTOS ERNESTO DE SOUZA

















Alice, cardando a lã já lavada e fervida,...
Ao pé da carreira de bambu a estrada se estreita de repente. Aí é um tal de abrir porteira que não acaba mais e enfrentar a lama que a chuvarada esparrama na trilha até chegar ao Bairro do Sertãozinho, em Pedralva, ao sul de Minas Gerais, bem na divisa com a pequenina São José do Alegre. Ali, até onde a vista alcança, tudo é igual. Roças de milho e feijão, pastos viçosos onde um gadinho sem raça rumina sob a chuva, trechos de mata fechada, casas brancas erguidas sobre altos alicerces de pedra. Mas, para surpresa de quem passa, um cântico atravessa a paisagem triste: 'Com minha mãe estarei na santa glória um dia, junto à Virgem Maria, no céu triunfarei'. A voz pequena nem chega a espantar a passarada, mas serve para guiar o viajante até o sítio Cubatão. É Negota, nascida Benedita Carvalho, quem canta na varanda da casa de janelas azuis. Enquanto louva a Virgem os dedos ligeiros vão ajeitando os fios esticados nas complicadas engrenagens de um velho tear. 'No céu, no céu, com minha mãe...' A voz se cala, os dedos abandonam os fios para apertar, diante da porteira novinha em folha, as mãos dos visitantes que chegam sacudindo a calma da manhã.

..que depois é transformada em fio na roda tocada por Ana Vitória


Magrinha, vergada sob o peso de seus 78 anos de vida, Ana Vitória aparece na varanda. Sorri quando a filha, ainda entre as moitas de flores amarelas do jardim, apresenta as visitas. Pronto. A pasmaceira do dia foi irremediavelmente rompida.
Francisca deixa as panelas fervendo sobre o fogão de lenha, estende a mão e põe no rosto corado um sorriso largo. É o seu jeito de dar as boas vindas a quem chega. Alice aponta no meio do milharal e repete o gesto da irmã.
Assim como Francisca ela nasceu e cresceu em um mundo sem som. A surdez de nascença nunca deixou que elas ouvissem o vai-e-vem da roda que, girando, transforma flocos de lã em longos fios.
Um som familiar que invadiu a vida de Ana Vitória aos 16 anos, quando ela, que recebeu no batismo nome de rainha, caiu de amores por Vicente Bernardo, moço correto e trabalhador que, por uma dessas coincidências da vida, tinha nome de príncipe. Diferente das histórias de fada, foi morar com a sogra Maria Cândida de Jesus, ali mesmo, no Cubatão, em uma casinha bem mais simples do que essa que Vicente construiu e que ainda hoje abriga a família. Tocada pelo pé de Maria Cândida a roda girava sem parar, cuspindo léguas e léguas de fios.


Colaboração e Pesquisa : Maria Liliana Inês Emparan Martins Pereira / Natural de Buenos Aires - Argentina, naturalizada brasileira, Pedagoga pela USP 1993 , Mestre em Psicologia e Educação pela Faculdade de Educação da USP 2004, Sócia do Instituto Lien de São Paulo -SP , ex-membro da ONG de Olho No Futuro, com trabalho premiado pela UNESCO pelo atendimento aos EGJ - Espaço Gente Jovem - da Prefeitura Municipal de São Paulo ( trabalho voluntário e social de atendimento a crianças com dificuldades de aprendizagem - Projeto Prisma)

Nenhum comentário: